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Você já se imaginou vivendo em uma igreja, numa estação de trem ou até numa caixa d’água?

Explorando novas possibilidades ambientais e arquitetônicas, cresce cada vez mais uma tendência de moradia bastante ousada. Já postamos aqui a arquitetura em container, mas hoje é a vez de locais ainda mais inusitados: igreja, estação de trem, fábrica, catacumba e até caixa d’água.

Segundo o arquiteto sueco Per-Johan Dahl, autor, junto de Caroline Dahl, do livro Lof P (que analisa o conceito dos precursores dos chamados RETROFTS: os primeiros galpões industriais convertidos em casas, há 20 anos), “Essas revitalizações surgem da necessidade de integrar funções, eliminando diferenças entre morar, trabalhar e divertir-se. E refletem a flexibilidade do homem moderno”.

Trilhado na Europa e nos Estados Unidos desde os anos 60, esse caminho popularizou-se na década seguinte, sob influência de intelectuais como Jane Jacobs – autora de Morte e Vida de Grandes Cidades, um clássico do urbanismo. Quase na virada do século passado, ganhou novo impulso. “O retroft de hoje é uma extensão do movimento dos anos 90 em converter espaços industriais em lofs”, confrma Cher Potter, editora de macrotendências do portal WGSN, especializado em captar esses sinais nas mais variadas áreas.

Estimulado pelo inconformismo, um sentimento ecológico e a fantasia, o retroft sintetiza um novo jeito de viver, de sentir, de ver o mundo. “Meu prédio manteve sua herança cultural, e é muito bom saber que ele ainda estará aqui em 100 anos”, fala Ronald Olthof, dono da casa-igreja. Outros aspectos também atraem o interesse dos moradores: dimensões, valor dos imóveis e qualidade construtiva. Edifícios mais velhos apresentam uma paleta de materiais que muitas obras atuais já não podem se dar ao luxo de utilizar, como ferro fundido e madeira nobre.

Juntos, os três pontos são o retrato de um movimento urbanístico bem mais amplo, em que entram desde a revitalização de áreas deterioradas por intermédio de projetos inovadores até o ímpeto coletivo de trocar o carro pela bicicleta. “Executado com sensibilidade, o retroft mantém intacta a alma do lugar”, lembra Francis D. K. Ching, professor do departamento de Arquitetura do College of Built Environments, da Universidade de Washington. “O mix entre o velho e o novo dá a sensação de viver entre dois mundos e ter o melhor de cada um”, resume o designer Jeroen van Zwetselaar, da casa-estação.

igreja

igreja

Uma capela do anos 20 abriga a residência do arquiteto Ronald Olthof, do estúdio LKSVDD Architecten, que tentou preservar ao máximo a construção original de 180 m², em Haarlo, na Holanda.

Telhas e tijolos de barro e a torre do sino foram apenas lavados com água e sabão. A interior, porém, passou por uma grande reformulação. Teve o forro demolido para deixar as vigas à mostra e ganhou piso de concreto aerado, além de mezanino, onde fica o quarto. No térreo, distribuem-se sala, cozinha e escritório – este na elevação antes destinada ao altar.

estação de trem

estação de trem

Vizinha ao parque nacional de Zuid-Kennemerland, nos arredores de Amsterdã, a construção do final do século 19 estava abandonada desde os anos 90. Mas depois da transformação assinada por Steven Nobel, do Zecc Architecten, e Jeroen van Zwetselaar, do ZW6 Interiors, virou a acolhedora residência do designer e seu filho de 4 anos.

A primeira medida foi retirar alterações recentes que descaracterizavam a antiga estação. Depois, para crescer a planta em 80 m², a dupla adicionou duas estruturas de aço corten com amplas portas de vidro duplo e cavou o subsolo, onde abriu espaço aos dois quartos e ao banheiro.

fábrica

fábrica

Com três mil m², uma antiga fábrica de cimento em Barcelona tornou-se o imponente refúgio do arquiteto Ricardo Bofll, do Taller de Arquitectura. Dos 30 silos originais, oito foram mantidos e cuidadosamente limpos para deixar à vista sua estrutura de concreto bruto. Finalizadas com spray oxidante à base de partículas de ferro, as paredes ganharam efeito de pátina no tom ocre.

Os prédios do complexo, batizado de The Factory, divididos em quatro pavimentos, abrigam não só a residência como também o escritório, um laboratório, biblioteca, salas de recreação e um fabuloso jardim de oliveiras, ciprestes, palmeiras e eucaliptos distribuídos em cinco hectares de terreno.

catacumba

catacumba

Na cidade histórica de Civita di Bagnoregio, na Itália, o arquiteto Patrizio Fradiani, do Studio F Design, criou um incrível espaço de lazer numa rede subterrânea de túneis com 200 m² de área. Sob a construção do século 14, uma escada escavada na rocha conduz a cavernas da era etrusca, transformadas em sala de estar e de meditação, galeria de arte, adega, piscina e jardim suspenso sobre os penhascos.

Em respeito ao acervo precioso, um geólogo acompanhou toda a obra. Materiais modernos foram adicionados com parcimônia – muitos vindos de demolições. A terracota usada no piso é artesanal; as pedras vulcânicas, originais.

E para fechar este post que toca profundamente meu coração de arquiteta convertida à sustentabilidade: Um casal de designers britânicos realizou algo próximo de um devaneio ao transformar em lar uma caixa-d’água abandonada. Encontraram um lugar para chamar de seu na pequena cidade de Joachimsthal, no nordeste da Alemanha. Lá, desenvolveram a residência que virou até atração turística.

A ideia foi colocada em prática com a ajuda do arquiteto Frank Meilchen, de Berlim. O projeto aproveitou o marco histórico que a torre representa e manteve a fachada em amarelo-mostarda de tijolos aparentes e também os janelões, que proporcionam uma incrível vista de 360 graus para a floresta. O maior desafio, no entanto, foi remover o grande tanque de água, de concreto que havia dentro da torre, para construir outro, que agora suporta o peso dos novos pisos, dentro da plataforma original.

caixa d'água

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A criatividade destes arquitetos e designers nos mostra que é possível expandir o paradigma da moradia e transformar espaços subutilizados em incríveis residências com boa arquitetura. Lindo, não?

Fonte: Planeta Sustentável e Casa Vogue

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