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Hoje vou compartilhar com vocês duas experiências que tive recentemente e que envolvem a arte como instrumento potencial na construção da vida e das experiências subjetivas.

Uma delas relaciona-se com a exposição de Salvador Dalí no instituto Tomie Ohtake em São Paulo e a outra em um encontro no Espaço de Leitura, no Parque da Água Branca, no qual ilustradores e autores de livros infantis conversaram sobre o universo interno do artista e suas técnicas na criação de seus trabalhos. Esse encontro foi o encerramento de um Laboratório Visual para Narrativas, conduzido pelos ilustradores André Neves e Eva Montanari, com a coordenação do Espaço das Três e Jujuba Editora. Só participei deste último evento.

Dalí teve Freud (o pai da psicanálise) como grande influência em seus trabalhos, principalmente em relação aos sonhos. Muito de sua obra surrealista apresenta elementos oníricos e do mundo interno do artista.

“Em 1907, Sigmund Freud publica o Delírio e os sonhos na “Gradiva” de W. Jensen, e o ensaio desperta grande interesse no grupo surrealista pela análise que Freud – a partir de Jensen – faz do delírio, do sonho, do inconsciente, do domínio da fantasia, da imaginação e da presença do oculto, tanto no mundo real como no onírico, e, especialmente, quando Freud declara seu interesse pela forma como os sonhos ajudam na criação artística…se converte também na representação da arte como um modo de liberação, no estreito vínculo do surrealismo com o mundo literário e poético, e, inclusive, em ícone de jogo intelectual entre o consciente e o inconsciente como modo de avançar até o autoconhecimento.” (trecho da exposição de Dalí).

Em outras palavras, o mundo dos sonhos tão defendido por Freud como caminho ao inconsciente, era fundamental no processo de criação de Dalí e outros artistas.

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André Neves, ao responder uma pergunta sobre a construção de sua obra, relata que para ele a arte é a criação que transforma todos os sonhos em histórias e ao mesmo tempo, “que os sonhos possam despertar no outro, que talvez não saiba criar, uma outra forma de sonhar”. André, a partir de uma grande insatisfação contínua, busca brincar com espaços que o permita andar num lugar onde a imaginação dele não alcança. À isso ele também chama de criação consciente e inconsciente.

Nesse evento no parque foi discutida também a importância da arte como deslocamento no tempo, no espaço, nas histórias da vida externa e interna, no retorno à infância de cada artista, pois a infância é atemporal. A arte como transporte simbólico que enriquece, que serve como teia das relações internas.

parque da água branca

parque da água branca

Vou colocar aqui algumas frases que anotei e que considero importantes para refletirmos:

“Quem está parado, está morto”.

“Não existe centro, não existe margem…É um jogo de trilhas, no qual o leitor reinventa o livro e reinvinta a si mesmo”.

“Avestruz pode ser descrito na forma convencional do dicionário ou como uma girafa que é um passarinho”.

“Há no artista potencial criador”.

Conforme venho apresentando nos meus textos, todos temos o potencial criador, tanto no intelecto quanto no mundo interno, das emoções, sentimentos, conflitos, angústias, insatisfações, expectativas e etc.
O grande desafio é buscar trilhar caminhos construtivos e criativos. Caminhos que nos levem a acessar experiências que dêem sentido a nossa existência. Mergulhar no mundo interno e enriquece a vida. Não só aprendemos mais sobre nós mesmos e sobre os outros, como também aumentamos os recursos, as ferramentas internas que nos ajudam a lidar com as vicissitudes da vida de maneiras mais tranquilas, menos sofridas. A arte cria vida. Abre brechas na realidade cristalizada.

Encerro com uma pergunta à vocês: Como ser artista da sua própria vida?

A Exposição Salvador Dalí é gratuita e está no Instituto Tomie Ohtake até 11 de janeiro de 2015.

Cristina Ciola Fonseca
Psicanalista, graduada na PUC-SP, especialização na UNIFESP
Consultório particular (11) 5052 9286 / 99850 9074
crisciola@hotmail.com

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