A negação, para a psicanálise, é um mecanismo de defesa do aparelho mental frente á idéias, sentimentos que ameçam o ego.
Na definição do dicionário, é uma recusa em aceitar um fato; uma afirmarção que algo não é verdadeiro; é não reconhecer; contestar.
Qualquer defesa refere-se à proteção. Isso ocorre com nossa mente. Herdamos geneticamente, através das células, a noção de sobrevivência e desenvolvemos mecanismos mentais, grande parte deles inconscientes, para tentar eliminar o sofrimento, pois a idéia é que este irá destruir a mente: a paz, o equilíbrio, a harmonia. Mesmo que estes três últimos não estejam ocorrendo, a pessoa tem a sensação que sua vida vai bem, que tudo está no lugar. Isso também caracteriza negação. No imaginário, olhar para o que não vai bem, pode causar um sofrimento muito intenso e a pessoa tem a sensação de que não irá suportar, que poderá enlouquecer.
Exemplos de negação:
Não enxergar conflitos internos que causam ansiedade, depressão, compulsão alimentar, sexual, por bens materiais ou outros distúrbios psicológicos e/ou psiquiátricos. Muitas pessoas negam a correlação entre os sintomas físicos com o psicológico.
Negar problemas financeiros, no casamento, na relação com chefe, com família, com amigos. Negar desejos sexuais, negar a sexualidade de um filho e etc.
Podemos negar uma informação ou sentimento, pois abalariam a base de nossas crenças ou seja, nossos mais antigos valores e formas de ver e entender o mundo. Com as crenças aprendemos a conhecer o mundo e a nós mesmos. Desenvolvemos a sensação de segurança. Portanto, abalá-las torna-se uma ameaça e, instintivamente, a defesa entra em cena afastando aquela informação, supostamente, perigosa.
Estudos comprovam tanto na psicologia, como nas ciências físicas e filosóficas, que a maioria das crenças que construímos acerca de nós e do mundo são incorretas ou incompletas. Elas condizem com experiências emocionais do passado. São tão fortes e enraizadas em nossa mente que nos dão a sensação de serem verdades absolutas. O maior temor das pessoas é não saber quem são, é não poder se reconhecer mais.
Muitas pessoas imaginam que se fizerem análise deixarão de ser quem são e isso se torna ruim ou ameaçador. Outras imaginam que análise é para loucos e que ela não faz parte deste grupo. Essas são crenças fortes, mas ilusórias. Mantém o indivíduo numa experiência contínua de sofrimento.
Quanto mais nos conhecemos, mais nos libertamos, menos estresse vivemos e, consequentemente menos sofrimento também, pois dissolvemos conflitos, os quais nos prendem à vivências repetitivas, podendo tornar nossa experiência na vida muito empobrecida e com muito sofrimento.
A negação inclusive pode fazer com que a pessoa não perceba que algo não vai bem e só quando uma crise grande eclode é que a pessoa é obrigada a reconhecer o que estava afastando de sua percepção. Já recebi diversas pessoas em meu consultório que me procuram no auge da crise e consequentemente, no auge do sofrimento. Se tivessem buscado fazer análise antes, poderiam evitar muitos abalos. Mas, o importante é buscar ajuda. A grande maioria que faz análise relata o quanto esse processo facilita a vida.
Conforme vamos ampliando nossa visão de mundo, seja através de estudos, leituras, filmes, práticas que promovam o autoconhecimento, novas crenças se formam e o círculo de percepção se amplia. Quando as emoções se transformam, liberam as crenças e sentimentos que estavam conectados as memórias do passado. Dessa forma, conseguimos aceitar novas possibilidades, novas verdades, sem sentir tanto medo de perder o controle sobre quem somos e sobre como o mundo funciona.
Quanto mais consciência tivermos sobre nossas crenças e o impacto das experiências passadas em nossa mente, mais ferramentas dispomos para superar obstáculos como a negação , e assim crescer pessoal e profissionalmente.
Se o mecanismo de negação for muito forte, poderá atrapalhar tanto para resolução do problema quanto para cura, e mais sofrimento será gerado.
Cristina Ciola Fonseca
Psicanalista
11 5052 9286 / 99850 9074
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