Resolvi usar este termo, mendigo emocional, para me referir às pessoas que possuem dificuldade de se relacionar com outras pessoas. Normalmente, elas possuem pouquíssimos recursos psicológicos/emocionais e por isso, acabam por apresentar atitudes e reações emocionais empobrecidas, concretas em excesso (olho por olho, dente por dente), muito limitadas na capacidade de simbolizar e até, algumas vezes, podem apresentar condutas violentas.
O que nos ajuda a lidar de forma mais madura, flexível e abrangente em diversas situações vem da gama mais sofisticada de emoções e sentimentos que adquirimos ao longo da vida, desde o nascimento até o fim. Esta por sua vez, cria possibilidades de transformação, superação, tolerância, perseverança e crença na capacidade construtiva de um mundo interno e externo saudável.
Teoricamente o ser humano possui a capacidade de aprender e absorver mais pontos de vistas conforme vai adquirindo conhecimento. Esse conhecimento vem de diferentes lugares. Aprendemos com nossos pais, escola, amigos, sociedade, leituras, vivências que promovam o desenvolvimento mental e psicológico, experiências de erros e acertos, conversas, relacionamentos e etc.
Mas, como venho apresentando em meus textos, toda a base da estrutura psicológica acontece na primeira infância. O mundo externo (cuidados maternos e paternos, ritmo desse cuidado, rotina de amamentação, banho, sono, carinho, aconchego, calma) precisa se adaptar ao bebê, respeitando seu processo de desenvolvimento físico e emocional.
O respeito, carinho, limite construtivo e educativo, sem ser coercivo e cruel, precisa acontecer de forma natural e tranquila até boa parte da infância. Sem isso, danos irreparáveis podem surgir e prejudicar a vida de um ser humano.
Usei pela primeira vez o termo mendigo emocional para ajudar uma cliente minha a compreender as dificuldades comportamentais e emocionais de seu pai. E passei a usá-lo para demais clientes que se encontram em situações sofridas em relação a um dos progenitores, filhos ou a pessoas próximas e significativas. É muito difícil, principalmente para um filho/a ser criado por pais que possuem quase nada de recursos emocionais.
Normalmente o mendigo emocional sofreu abalos em seu desenvolvimento, o que gerou e ainda gera enorme dificuldade de adaptação frente às demandas, seja no âmbito profissional ou pessoal.
O problema é que pessoas assim quando se tornam mãe/pai ou assumem um papel mais consolidado na sociedade como um casamento ou cargo de chefia profissional acabam por influenciar, muitas vezes de forma negativa, o desenvolvimento emocional de seus filhos ou funcionários.
Conseguimos olhar para um mendigo de rua e sentir compaixão, mas um dos grandes desafios é conseguirmos alcançar esse sentimento quando o envolvido é uma pessoa próxima.
Pedir ajuda
O mendigo emocional é aquele que não pede ajuda para se tratar, pois acredita que não possui nenhum problema, porém pede à sua volta uma atenção cansativa e sem fim. É muito comum as pessoas tentarem oferecer o que ele reivindica, mas nada alcançará sua satisfação. Exatamente porque o que faltou vem de aspectos emocionais internos e não de fatos ou acontecimentos externos. Como se torna um ciclo vicioso, normalmente elas acabam desistindo de ajuda-lo e desenvolvem um sentimento de irritação, aversão, raiva e indiferença.
É difícil para um filho, esposa ou amigo presenciar um comportamento repetitivo destrutivo que vem justamente daquele que deveria cuidar, influenciar positivamente e/ou trocar experiências, enriquecedoras. A falta disto gera uma impotência muito dolorosa. E o afastamento ou raiva vem como defesa a esse sofrimento.
Uma saída para quebrar em nós esse ciclo de sofrimento é buscarmos cuidados psicológicos e filosóficos em relação aos sentimentos do passado e do presente, que hoje interferem em nossas emoções, reações, escolhas e que estão diretamente relacionados ao que recebemos em nossa infância como modelo e alimento emocional.
Outra saída é não nos sentirmos culpados, pois de nada adiantará. Não podemos mudar os outros, quase nada podemos fazer com um mendigo emocional, a não ser que ele busque tratamento, mas podemos mudar a nós mesmos!
Quando deixamos de esperar que as relações parentais e conjugais supram tudo o que precisamos e necessitamos do âmbito emocional, podemos nos abrir a outras experiências afetivas que vêm de outras pessoas, que podem preencher e dar um significado muito especial à vida. Além do que, a compaixão e compreensão surgem e ajudam na melhora da convivência.
Cristina Ciola Fonseca
Psicanalista
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