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Nem sempre as coisas estão na ordem esperada

Dia desses cheguei no vestiário da academia e uma confusão estava rolando: Um mistério! Um menina chegou de manhã, colocou sua bolsa no armário, trancou com o cadeado e foi treinar. Quando voltou, abriu com sua chave o cadeado e… encontrou uma outra bolsa no lugar! Ohhh Comentou assustada com as mulheres ao lado que logo se puseram a procurar a bolsa misteriosamente desaparecida nos outros armários. O borburinho se instalou e meu primeiro pensamento foi tomar partido na situação e ajudá-la, dar minha opinião, resolver o problema…

Quanto tempo vc consegue presenciar algo não resolvido? A pergunta abria o texto de Gustavo Gitti sobre O Poder do Caos, que, não por coincidência, li correndo na esteira da academia.

Cresci numa família muito amorosa onde todos abraços estiveram presentes na hora certa, mas nenhum papel, nunca, estava no lugar certo. Colecionamos sorrisos, lágrimas, histórias lindas na mesma proporção das contas atrasadas. Não tivemos uma planilha como exemplo de meta a se seguir mas várias vezes vimos nosso pai se por a frente de um conflito para resolve-lo de alguma maneira.

Durante os primeiros anos da fase adulta, fui uma “resolvedora de conflitos” fora e deixei a falta de organização dentro trazer desconfortos e até sofrimentos. Repeti os passos do que conhecia como familiar até o momento que percebi que o olhar para dentro era muito mais urgente e necessário que o caos da vida lá fora. Eu tinha então que me organizar!

Organizei as finanças em planilhas (uso a mesma até hoje), o armário por utilidade das peças e cores, os livros… joguei fora ou doei um monte de coisas que não precisava mais. Disciplinei tanto que um único dia da semana sem frequentar a academia ou meditar eram motivos de peso na consciência. Aí entra a pergunta: Mas qual a medida certa? O próximo passo foi entender que a disciplina é um meio, mas não o fim em si. É necessária, mas apenas um dos ingredientes do bolo. Se usar demais, desanda a receita! Pode até virar um transtorno como TOC.

Quer você tenha desenvolvido ou herdado o hábito de por ordem nas coisas, um dia vai se deparar com as coisas que não podem receber nem sofrer as suas ações, por mais contundentes ou bem intencionadas que sejam. A vida tem seu próprio tecido e o desejo de controla-la é um despedício imenso de energia e caminha na contramão da sabedoria. Eu posso planejar e plantar uma semente, mas não tenho o poder de saber como virá o fruto.

Observar um conflito sem vomitar suas opinióes sobre os envolvidos dá espaço para que a criatividade de manifeste e todos tenham tempo de maturar uma solução coletiva e quem sabe até mais apropriada. Ter paciência para que as coisas se ajeitem naturalmente é um dom a ser desenvolvido e esse sim requer nosso empenho.

Depois de me trocar observando minha vontade de interferir no mistério da bolsa desaparecida, percebi que não havia levado o tênis e, sem poder treinar, voltei para casa orgulhosa do meu silêncio paciente. Quando lá cheguei, a máquina de lavar roupas tinha vazado inundando a lavanderia, a cozinha e a sala. Bora então secar tudo, que este caos não podia esperar! ;-)