Por que dói tanto quando perdemos? Pode ser uma pessoa, um trabalho, um objeto, um projeto, um sonho, a esperança, o controle etc.
Para cada um o siginificado do que foi perdido é muito subjetivo e não dá para mensurar o tamanho da dor. Podemos até dizer que perder um ente querido dói muito mais do que perder um cargo, por exemplo. Só que dependendo do que representa para a pessoa determinada situação, a dor pode ser tão intensa nos dois casos.
Pessoas apaixonadas que perdem o outro vivem uma dor como se tivessem perdido a si mesmas. E de fato isso pode ocorrer. Existe um mecanismo, na psicanálise, chamado projeção. Imaginem uma tela de cinema na qual um fime é projetado. Projetamos nossos desejos, expectativas (filme), conscientes e inconscientes, nos outros, nas situações, no ambiente e no futuro (tela).
Quando encontramos alguém que nos toca profundamente, temos a sensação que encontramos um sentido maior para as nossas experiências, inclusive para a nossa existência. E isso pode ser muito verdadeiro. Acontece que junto à isso vem a projeção, ou seja, enxergamos no outro o filme que queremos ou que necessitamos viver. O perigo é que muitos sinais passam desapercebidos, pois a projeção dá a ilusão de que o outro é perfeito ou que aquela relação é perfeita para nós.
No momento da perda, não se perde somente a pessoa e sim o filme todo. Nesse filme há muitos elementos importantes e essenciais ao significado do nosso existir. Se buscamos no outro a oportunidade de nos sentirmos amados ou a compreensão e escuta ou se nos sentimos mais vivos, felizes na presença da pessoa, perder, dói demais, porque perde-se a esperança, o sonho, a calma, a alegria, a paz, o brilho, a cor.
Isso também se aplica à outras circunstâncias. Quanta expectativa se coloca na realização de uma tarefa ou viagem ou conquistas materiais/profissionais? Quantas pessoas que ao conquistarem o que queriam voltam a sentir um vazio e sentem que precisam buscar mais?
Não é no outro ou no externo que encontraremos a completude, o sentido da vida ou tudo o que nos faz feliz. É em nós mesmos, num processo de autoconhecimento, principalmente de tudo o que nos é inconsciente e que atua fortemente em nossas escolhas, mesmo quando achamos que temos clareza sobre elas. Mas, por outro lado, é no outro que nos descobrimos também.
Sou visto, logo, existo
O ser humano é a única espécie que precisa do olhar do outro para se desenvolver emocionalmente. Um bebê que recebe somente cuidados físicos tem grande chance de ter sequelas emocionais graves.
Perder dói e muito. Algumas pessoas passam a vida buscando se encontrar no outro, no trabalho, no bem material, só que todas essas experiências não serão suficientes se não houver o entendimento do mundo emocional que as compõe. Podem passar a vida, literalmente, “correndo atrás do rabo” sem nunca alcançar.
Na dor temos a oportunidade de repensar nossas escolhas e de cuidar para que possamos trilhar novos caminhos, mais reais às nossas necessidades internas, com menos projeções ilusórias. Um processo muito mais consciente e maduro. Porém, sozinho fica muito difícil encontrar todos esses significados.
Uma dica para se iniciar um olhar mais cuidadoso consigo é se perguntar por que e para que você precisa ou quer determinada coisa ou situação. É porque realmente faz sentido ou porque todos têm? É seu desejo profundo ou desejo dos outros (familiares, amigos, filhos…)? É por medo de perder, de se machucar? É por falta de confiança ou para provar a si mesmo que você pode? Para você se sentir bem, capaz, rico, poderoso, inteligente, descolado, feliz, importante, seguro?
Realmente necessito disso dessa forma? O que estou perdendo e/ou ganhando? E por último perceber se de fato você realmente quer assim ou é uma repetição de uma programação que você aprendeu ao longo da vida.
Encontrando significados pode-se conseguir minimizar a dor nas perdas.
Cristina Ciola Fonseca
Psicanalista, graduada na PUC-SP, especialização na UNIFESP
Consultório particular (11) 5052 9286 / 99850 9074
crisciola@hotmail.com
0 Comments
Leave A Comment